Eu sou a bala na agulha", dizia o anúncio publicitário da Nike estrelado pelo campeão paraolímpico Oscar Pistorius. Mas, após o atleta sul-africano ser indiciado pela morte a tiros de sua namorada, a modelo Reeva Steenkamp, seus patrocinadores estão em modo de "gerenciamento de crise".
Estima-se que Pistorius, que negou "com veemência" as acusações de homicídio, tenha ganho milhões de dólares de patrocínio de marcas como Nike, BT, Thierry Mugler, Oakley e Ossur, a empresa islandesa que fabrica as protéses de fibra de carbono que ele usa em suas corridas.
No mundo brutal do patrocínio esportivo, o "Blade Runner", como Pistorius é apelidado, pode perder tudo - mesmo presumindo-se sua inocência no episódio de 14 de fevereiro.
Questionado pela BBC se a Nike pensava em pôr fim ao acordo de patrocínio de Pistorius, um porta-voz da marca disse apenas que a empresa "está monitorando a situação de perto. É um assunto policial".
Outra patrocinadora do atleta, a emissora a cabo sul-africana M-Net Movies, tirou do ar uma campanha que Pistorius estrelava. A justificativa veio pelo Twitter: "Por respeito e luto, a M-Net vai suspender a campanha com Oscar Pistorius imediatamente".
Distância
"Mesmo que Pistorius seja inocentado, ele fica arranhado. As marcas precisam agir rápido e se distanciar dele, não podem se dar ao luxo de esperar até a conclusão do caso", opina à BBC John Taylor, diretor de uma empresa de patrocínio esportivo."Não é (como se fossem) ratos desertando o navio que naufraga; é simplesmente a coisa sensata a fazer."
Nigel Currie, diretor da agência de marketing esportivo Brand Rapport, concorda: "Isto é diferente dos casos de Tiger Woods (envolvido em um escândalo conjugal) e Lance Armstrong (acusado de doping). Isto é um caso de vida e morte. Não tem como voltar atrás".
Mas até o momento nenhum patrocinador rompeu formalmente seus laços com o atleta olímpico e paraolímpico, e a maioria das marcas mantém silêncio.
A empresa britânica de telecom BT, autora de uma premiada campanha publicitária com Pistorius, declarou apenas que "nossos pensamentos estão com os afetados por esta tragédia. Diante de procedimentos legais ainda em curso, seria inapropriado fazer mais comentários".
A marca de roupas Thierry Mugler, que em 2011 escolheu Pistorius para estrelar anúncios de seu perfume, não quis comentar. E a marca Ossur disse ser "prematuro" tomar qualquer decisão quanto a seus laços com o atleta.
Até o agente sul-africano de Pistorius falou pouco. Na sexta, Peet van Zyl declarou à BBC que "Oscar é meu cliente há seis anos. Mas não estou em posição de fazer comentários no momento, diante da sensibilidade da situação".
Indústria bilionária
A indústria global de patrocínios movimenta estimados US$ 50 bilhões por ano, estima a consultoria IEG, segundo a qual mais de 80% desse montante é gasto em esportes.A Nike, que tem receitas anuais superiores a US$ 24 bilhões, gasta milhões em patrocínios esportivos. Seu recente acordo com o golfista norte-irlandês Rory McIlroy, por exemplo, custará à empresa entre US$ 100 milhões e US$ 125 milhões nos próximos cinco anos, segundo estimativas.
Quando Tiger Woods, então destacado embaixador da marca, levou fama de mulherengo em 2009, a Nike manteve-se ao seu lado, ainda que muitas outras marcas tenham se afastado do golfista americano.
"Toda a estratégia de golfe da Nike estava construída ao redor dele", opina Alan Ferguson, gerente da consultoria The Sport Business. "Eles (a marca) gastaram milhões de dólares e simplesmente não podiam se dar ao luxo (de desligar-se de Woods)."
A Nike costuma escolher estrelas esportivas que personificam e reforçam sua marca como símbolo de energia. As conquistas esportivas de Pistorius fizeram dele uma escolha óbvia para representar a marca. "Meu corpo é minha arma. É assim que eu luto", diz um anúncio da marca com ele e outros atletas sul-africanos.
Mas, diante do episódio envolvendo sua namorada, Ferguson adverte: "Acho que muitas marcas vão começar a reavaliar seus patrocínios a celebridades. No mínimo farão uma checagem mais minuciosa (da vida) de suas estrelas esportivas".
Matthew Wall
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